quinta-feira, 11 de maio de 2023

Reflexões de uma turnê pós pandêmica


Por Roberta Forster

    O Scorpions visitou o Brasil em 2019 para uma longa estadia, culminando em um show apoteótico no Rock in Rio. O que se seguiu depois, infelizmente todos nós sabemos. Por um longo tempo, acreditei que as coisas nunca voltariam ao normal, que eu nunca mais teria a oportunidade de viajar novamente e que aquele poderia ter sido o último encontro com o Scorpions. Cada um de nós enfrentou suas batalhas, alguns lidaram com a perda e muitos se viram imersos na escuridão do abismo no qual o mundo, especialmente o Brasil, parecia afundar.

    Os meses passaram e as melhorias pareciam escassas. As vacinas foram surgindo, os anos foram passando e a vida, finalmente, começou a se reorganizar. As coisas, de fato, não voltaram ao normal. Não necessariamente pioraram ou melhoraram, apenas se tornaram diferentes. Não era mais possível ser a mesma pessoa depois de 2020. A sociedade já não poderia ser a mesma após a pandemia. Por bem ou por mal, ninguém passou ileso por esse período.

    Após quatro anos sem visitar minha família que mora no exterior, finalmente consegui viajar novamente. Matando a saudade acumulada e me recuperando das perdas e rompimentos dos anos anteriores, também acabei gastando todas as economias que tinha reservado para essa viagem. E então, o Scorpions anunciou seu retorno ao Brasil, já em abril, dois meses após meu retorno. Como eu teria tempo para me planejar financeiramente para essa turnê? Eu tinha certeza de que só poderia ir ao show em São Paulo. No entanto, à medida que as datas se aproximavam, de alguma forma consegui encaixar tudo no meu orçamento, embora tenha enfrentado um pouco de imprudência e crises existenciais junto com Pati e o David, que também enfrentavam as suas próprias batalhas. Houve momentos em que quase desisti. Minha viagem para Ribeirão Preto foi decidida pouco menos de uma semana antes. Tudo foi parcelado no cartão.

    Mas valeu cada centavo gasto, cada noite em claro. Foi uma experiência diferente. Eu já não sou a mesma pessoa, assim como todos nós; o mundo não é mais o mesmo e eles também não. Eles envelheceram, nós também. Quando descobri o Scorpions, eu tinha 24 anos, assim como a Larissa tem hoje, juntando-se agora ao time do Scorpions Brazil. Agora, quase chegando aos 40, minha disposição não é mais a mesma, nós crescemos, as responsabilidades mudaram. No entanto, novos fãs continuam a surgir e o Scorpions Brazil continua a existir. É como uma energia renovada a cada ano. E o legado permanece, porque ele é imortal enquanto viver geração após geração.

    Nada será como antes, nem eles, nem nós. Em meio a tantas transformações, a única coisa que permanece constante é o amor recíproco entre a banda e seus fãs. Essa conexão especial e mútua é percebida não apenas através da música, mas também no palco, onde os fãs sentem o carinho e a dedicação da banda em cada apresentação. Cada gesto no palco, como um dedo apontado ou um beijo mandado que emociona o fã, pois por uma fração de segundo ele sabe que foi percebido na platéia. Essa troca de energia e emoções é o que torna as apresentações do Scorpions tão memoráveis e únicas. O amor pela banda continua unindo gerações e construindo pontes entre continentes, pois a música não conhece fronteiras, e as amizades que ela cria também não. Que venham novamente, pois estaremos sempre prontos para vivenciar cada experiência única e inesquecível proporcionada por esta lenda chamada Scorpions.