sábado, 12 de outubro de 2019

Diário de uma turnê: Da pedrada na Pedreira ao êxtase no Rock in Rio (Parte 3 - final)

Foto da visão geral do palco iluminado em verde e amarelo. Show do Scorpions no Rock in Rio.
Rock in Rio. Foto: David Araújo
A passagem do Scorpions pelo Brasil foi, literalmente, como um furacão. Foram dias inesquecíveis, das pedradas que levamos em Curitiba ao êxtase do histórico retorno da banda ao Rock in Rio 34 anos depois da primeira edição em 1985. E nossa resenha não será de apenas shows, mas sobre a intensa aventura que foi seguir esses caras pelo Brasil. Senta que lá vem história!

Read it in English here.

Parte 3 (final)
(Parte 1, parte 2)


04 de outubro - Rock in Rio

(Dia do Metal no Palco Mundo: Sepultura, Helloween, Iron Maiden e Scorpions)

As passagens da Pati foram um grande problema, um ônibus de Alegre ao Rio de Janeiro duraria mais de 26 horas, e as passagens de avião estavam a um preço exorbitante, devido ao festival. Depois de muitas crises de “vou/não vou”, lançou mão do parcelamento no cartão de crédito e abraçou o Rock in Rio. Foi a melhor coisa que poderia ter feito, pois o Rock in Rio seria inesquecível.

Eu, David e Bela viajamos de avião até São Paulo, e do aeroporto fomos direto para a rodoviária pegar nosso ônibus para o Rio de Janeiro, pois voos diretos para o Rio estavam muito caros. David e Bela apagaram no ônibus logo depois de comer o lanche que levamos uma hora na fila para comprar (O Rock in Rio estava lotando aeroportos e rodoviárias do Brasil todo). Eu continuei desperta até a nossa chegada, por toda a noite. O dia seguinte precisaria de muito redbull… 

Chegando à rodoviária depois de um trânsito infernal, encontramos a Pati, cujo voo havia chegado meia hora antes. Dessa forma, seguimos para o nosso Airbnb, onde já se encontravam Caue e Erich (mais amigos que Scorpions estava me trazendo).

Depois de tentar fracassadamente dormir por pelo menos uma hora, era hora de partir para a Cidade do Rock. O Uber não podia se aproximar da Cidade do Rock, tivemos que descer e caminhar por mais de dois quilômetros para retirar nossos ingressos na bilheteria. Já cansados pela caminhada e com dores nos pés, conseguimos pegar nossas pulseiras. Meu tornozelo estava latejando, já que desde o acidente que sofri em 2016 nunca me recuperei totalmente do esmagamento do meu tornozelo esquerdo. A turnê toda, aliás, foi um grande desafio para meu pé, meu querido pé, que me aguenta o dia inteiro… 

Roberta, Pati, Bela e David fazendo uma selfie em frente ao letreiro Rock in Rio.
Roberta, Pati, Bela e David
Após passarmos pelos portões, nos separamos para encontrar amigos que já se encontravam lá dentro. Encontrei Fábio, meu amigo do Rio. No meio da multidão, acabamos nos separando por toda a noite: David e Bela para um lado, Pati jogou-se no Helloween, eu e Fábio ficamos perdidos no meio da multidão que esperava enlouquecida pelo show do Iron Maiden. Aliás, um fato a se considerar, é que os vendedores ambulantes pareciam acreditar que havia apenas Iron Maiden a se apresentar naquela noite, praticamente todo o material pirata vendido na rua era relacionado à banda britânica. 

Assisti ao primeiro show do Iron Maiden da minha vida. Devo dizer que, apesar de alguns fãs chatos que quiseram arrumar briga com quem gostava de sentar no chão entre um show e outro, a experiência foi fantástica. Iron não é uma banda que costumo ouvir, o estilo não me agrada, entretanto, ao vivo a história muda de figura, que apresentação, que performance no palco! É teatral, é visceral, não tem como não se envolver e não pular junto. Mas a emoção da noite veio mesmo quando Scorpions subiu ao palco. Logo que Iron Maiden terminou sua apresentação, muitos fãs da banda abriram espaço, mas ao contrário do que muitos comentam, não estavam deixando o show, foram tomar uma água, ir ao banheiro, reabastecer a cerveja... O espaço foi aberto para os fãs de Scorpions se aproximarem mais do palco, o que eu não consegui fazer com eficiência, porque nunca vi um show do Scorpions tão longe, e ainda assim, a experiência foi única. Alguns abandonaram? Sim. Da mesma forma que outros chegavam apenas para ver Scorpions. No geral, o público manteve-se firme e forte, com gente a perder de vista (literalmente! Não dava para ver o fim da multidão). 

Foto de Rudolf Schenker levantando sua FLying V e Matthias Jabs tocando a icônica guitarra verde e amarela do Rock in Rio 85
Foto: David Araújo
Quando a introdução do show começou, o coração bateu mais forte, e quando finalmente subiram ao palco, toda a emoção explodiu em forma de grito. Era Scorpions no Rock in Rio! 34 anos depois da lendária apresentação em 85. O setlist era o mesmo da turnê, com exceção de Cidade Maravilhosa, uma surpresa que já era esperada, e Klaus cantou maravilhosamente bem, de forma doce e emocionante, com a sua pronúncia de “xidade” e um agradável sotaque, fazendo uma ponte com o passado, quando cantou a mesma música na primeira edição do festival. A guitarra verde com bandeirinhas do brasil nas mãos de Matthias Jabs também se encarregou de fazer essa conexão com o passado.

A empolgação maior do público veio na hora mais esperada: Wind of Change era uma só voz em toda a cidade do rock, muito choro ao maravilhoso assobio de Klaus, a emoção tomou conta de todos. Still loving you embalou os corações apaixonados e Rock You Like a Hurricane levantou mais de 100 mil pessoas cantando, gritando e pulando em um coro único no marcante refrão da canção que marcou geração após geração. A voz de Klaus Meine. A VOZ de Klaus… o que é aquela voz? Ela penetra na alma, causa arrepios, e parece mais perfeita a cada ano que passa. 

Quando Scorpions deixou o palco e começou a queima de fogos do Palco Mundo, a sensação de vazio tomou conta de mim, e acho que de muitos ali presentes. Eu, Pati, David, Bela e mais alguns amigos nos encontramos depois, estávamos acabados mas realizados. A tão esperada turnê brasileira e o retorno da banda ao Rock in Rio havia oficialmente acabado. E alguns sinais da realidade já começavam a querer bater à porta.  Um dia de cada vez, naquela noite, a magia do rock era a única coisa que importava. Encontramo-nos todos em nosso ponto de encontro e começamos a nossa saga de uma caminhada de mais de três quilômetros para conseguir pegar um uber e finalmente chegar à nossa hospedagem. Era 5 da manhã quando finalmente chegamos. Nada de uma bela noite de sono: pouco antes recebemos a notícia de que Klaus e Rudolf autografaram os cards e fotos que deixamos com eles (alguns para promoção) e que deveríamos pegá-los no hotel antes de sua partida. A partir daí, nem dormimos mais. Um banho, um cochilo de uma hora e estávamos prontos para enfrentar o trânsito do Rio de Janeiro. 

Chegamos de malas no hotel, já tínhamos feito checkout do Airbnb. Descemos do carro. Havia barricadas em todo o entorno do hotel, fãs de diversas bandas do lado de fora. “Boa tarde, os senhores vieram fazer check in?”. Fiz a minha cara de paisagem: “Viemos encontrar um hóspede”. E dei o nome do tour manager do Scorpions. “Um minuto, vou verificar”. E assim esperamos, até que nossa entrada foi autorizada. Ainda bem! Que calor fazia naquela cidade, o ar condicionado do hotel era mais do que bem vindo. Alex nos cumprimentou e nos entregou os autógrafos, agradecemos, conversamos um pouco sobre a experiência Rock in Rio e então despedimo-nos. 

E já estávamos por lá, por que não ficar e dar um tchau para a banda antes de saírem? Fizemos cara de hóspede e por ali ficamos. Eu estava com sede, vamos consumir para não dar na cara, né? Comprei uma água de DOZE reais. A Pati pediu um chá de DOZE reais. David e Bela passaram (água da torneira é de graça, né não?). Tudo bem, não estávamos do lado de fora, e tinha ar condicionado. E esperamos, e esperamos, e esperamos… Metade de nós era fome, cansaço e sono (já eram 48 horas sem dormir), a outra metade era vontade de ver a banda passar e dar um último tchau. Acho que umas quatro horas depois começou o movimento dos seguranças, malas e staff. E lá estavam eles, descendo. Rudolf e Klaus nos viram, cumprimentaram-nos e despediram-se. Klaus, ao sair do hotel, ainda foi tentar atender os fãs do lado de fora, duas fotos e então apressaram-no para dentro do carro, e de lá, acenava. E assim saíram para o aeroporto, a turnê oficialmente chegava ao fim. Se ao fim do show houve a sensação de vazio, agora a sensação era de alegria, vazio, com um misto de saudade e a expectativa de um novo retorno. 

E agora vamos comer pizza porque a fome tomou conta de nós. Vamos dormir, porque o sono e o cansaço tomaram conta. Vamos reencontrar alguns amigos, passear, aproveitar o último minuto na cidade maravilhosa. E então vamos voltar para casa, cada um em seu ônibus, avião... rumo a Salvador, Porto Alegre, Cotia… cada um de um canto do país, em uma reunião incrível que somente Scorpions poderia proporcionar.

Scorpions ao final do Rock in Rio. Foto: David Araújo







Nos vemos em breve, Scorpions!


Setlist Rock in Rio 2019
00. Intro 
01. Going Out With a Bang 
02. Make It real 
03. The Zoo 
04. Coast To Coast 
05. 70's Medley (Top Of The Bill, Steamrock Fever, Speedy's Comin, Catch Your Train) 
06. We Built This House 
07. Delicate Dance 
08. Cidade Maravilhosa 
09. Send Me An Angel 
10. Wind Of Change 
11. Tease Me, Please Me 
12. Drum Solo Mikkey Dee 
13. Blackout 14. Big City Nights 

15. Still Loving You 
16. Rock You Like a Hurricane