quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Entrevista: A lendária banda alemã Scorpions ajudou a derrubar o Muro de Berlim

A FOX entrevistou, no dia 31 de julho, nos Estados Unidos, os guitarristas Rudolf Schenker e Matthias Jabs. Confira a entrevista traduzida na íntegra pelo Scorpions Brazil!

Foto: REUTERS
Você não pode parar o Scorpions. Os mestres alemães de longa data do metal ("Rock You Like a Hurricane", "Blackout", "Wind of Change") estão comemorando seu 50º aniversário com o novo álbum "Return to Forever", que será lançado nos Estados Unidos em 11 de setembro, exatamente no dia em que a banda de 100 milhões de albuns vendidos inicia sua turnê americana em 16 cidades. ("Forever" estava disponível internacionalmente desde fevereiro.)

Nós conversamos com o guitarrista fundador do Scorpions, Rudolf Schenker, 66 anos, e o guitarrista Matthias Jabs, 59 anos, para ter das Wort (a palavra, em alemão) sobre o legado da banda, criando hinos inesquecíveis do metal, e continuando a quebrar barreiras culturais indo fazer turnê na Rússia, depois de ir pela primeira vez nos anos 80.

FOX411: Celebrar 50 anos como uma banda é algo impressionante - vocês agora se juntaram aos Rolling Stones e os Beach Boys em termos de longevidade. Vocês alguma vez pensaram, quando começaram o Scorpions anos atrás na Alemanha, que vocês resistiriam ao teste do tempo?

Rudolf Schenker: Sim, foi há muito tempo, não é? Quando comecei a banda eu fui muito inspirado pelos Beatles e os Stones. I vi quatro e cinco caras juntos, viajando o mundo - amigos, fazendo música juntos. Amigos! Essa foi minha filosofia desde o começo.Eu estava procurando por bons músicos e pessoas com quem eu poderia fazer amizade. Essa é a razão pela qual a banda ainda está de pé, e esse é o motivo pelo qual tocamos esse tipo de música. Nós construimos esse som. Nos atravessamos tempestades, mas ainda estamos aqui. Nós construimos a casa com base no rock (N.E: Aqui Rudolf faz uma alusão à musica "We built this house")

Matthias Jabs: Sim, exatamente! Bem, 50 anos é só o Rudolf, sabe. (risos). Klaus [Meine, vocalista] tem 45 anos de banda, e eu tenho 37. Rudolf fundou a banda em 1965, o que é fantástico. Ter uma banda de tantos anos que lança um novo álbum e sai em turnê pelo mundo é também fantástico. Algumas bandas tem 50 anos e você não ouve novas músicas há muito tempo. Estamos na verdade surgindo com um novo álbum todo ano.

FOX411: Falando de música nova, eu gosto do forte poder motriz de "Return to Forever", músicas como "Rock my Car" e "House of Cards", mas acho que minha favorita é uma que tem um pouco de mistura disso: "The Scratch".

Schenker: Oh yeah yeah yeah! Essa foi uma que surgiu no último minuto! É fantástico que, de alguma maneira, tivemos a liberdade de fazer essa música - contanto que ela se misture e agite. Essa é a coisa boa nisso tudo. Você essa sopa de música, e se você colocar um pouco de chili, então fica ótimo. Sem o chili ainda é bom, mas não tão bom como quando você adiciona o chili.

Jabs: Eu estava exatamente ouvindo essa no carro. Gravar todas aquelas guitarrras para ela foi muito divertido. A ideia que Rudolf teve para ela foi ótima. Ela tem um tipo Benny Goodman de vibração, com guitarras rock´n´roll. Eu gostaria que pudéssemos fazer um vídeo para essa! (risos)Pegar um visual Benny Goodman para conduzir.

FOX411: Quando vocês estavam crescendo na Alemana, em que lado do Muro de Berlim vocês estavam?

Schenker: Estávamos no lado oeste do muro. Essa é a razão pela qual eu disse para a banda, quando nos tornamos famosos nos Estados Unidos em 1982, "Nós temos que ir para a Russia". As pessoas disseram "Você está maluco! Não há nada acontecendo na Russia - não há música, não há gravadoras, não há fãs." Eu disse,"Eu tenho um pressentimento que devemos ir para lá. É um país fantástico, e nós podemos mostrar a eles que os alemães tem uma nova geração surgindo. Não estamos indo para fazer guerra - nós estamos indo com guitarras e tocando rock'n'roll e levando paz e amor."

Jabs: Eu nem sequer pensava sobre essa história de ser um alemão fazendo turnê pelo mundo por muitos anos. Quando estou na América ou na Inglaterra, eu não penso sobre onde eu vim. Mas quando você vai para o leste, de alguma forma, você começa a pensar, "Ok, eu sou um alemão, ainda que eu não tivesse nem nascido quando tivemos a Guerra Mundial." Os pais alemães eram os que tinham lutado com os russos, então isso torna você mais consciente da história que as pessoas falam. E agora nós temos uma situação diferente. É a nova geração. Agora os alemães vêm com guitarras e os fãs adoram isso.

FOX411: Sobre ir à Rússia em 1988, vocês sentem que o Scorpions eram capazes de quebrar algumas barreiras da Guerra Fria?

Schenker: Sim, essa é a ideia básica! Eles tinham um novo homem no comando lá, o Sr. [Mikhail] Gorbachev, com Glasnost e Perestroika, então nós tínhamos a chance de tocar na Rússia! Quando nós fomos, nós queríamos fazer cinco shows em Moscou, mas foram todos cancelados porque as autoridades tiverm medo que poderia haver motins antes da Parada de Primeiro de Maio. Então nós fizemos dez shows no Leningrado [hoje conhecido como São Petesburgo]. Nós tivemos 15 mil pessoas todas as notes. É algo muito interessante, em 85 e 86, nós tivemos um grande hit com Still Loving You [do Love at First Sting, de 1984] na Rússia, mesmo quando eles não tinham as gravações. Nesse caso, nós já éramos muito bem vindos e esse foi o começo de paz com a Russia. Eles são uma grande audiência. Descobrimos que tinhamos grandes fãs na Russia - e em todo o mundo. 

Jabs: Essa é a peça do grade quebra-cabeças, e talvez uma peça muito importante, até. Definitivamente foi o movimento certo arriscar ir para a URSS, a URSS comunista, em 1988 - para ir ao Leningrado e arriscar um montante de dez shows em sequência. Tivemos 15 mil pessoas todas as noites. As pessoas estavam vindo de trem, de avião, de ônibus - dê o nome que quiser. Tivemos um grande público todas as noites, eu acho, por que já chegamos lá metendo o pé na porta muito cedo. Os fãs nos deram muitas boas vindas, e ainda o fazem até hoje. Eles dizem que o Scorpions foi adotado pelo público russo, pelos fãs. Isso tem a ver com o fato na nossa brava decisão de ir lá muito cedo sem saber o que esperar.

FOX411: A Russia podia usar um pouco mais daquele tipo de amor agora, vocês não acham?

Schenker:Nós tocamos na Rússia recentemente há quatro semanas [em maio e junho], e foi fantástico. Os fãs ainda são incríveis, e nós não sentimos aquela tensão entre Leste e Oeste. Nós sentimos que os fãs são os mesmos, como sempre foram. É uma coisa maravilhosa o que podemos fazer com música. Podemos construir pontes. Podemos mostrar aos políticos que existem outras linguagens no mundo. Não é sobre crescer grandes músculos, ou o que quer que seja - é sobre música. Música é compreensível por todo mundo no planeta. Olhando para o passado agora, eu sempre disse que o Scorpions se mantém pelo amor, pela paz e pelo rock´n´roll - a paz e o amor são Wind of Change e o rock´n´roll é Rock You Like a Hurricane.

Jabs: Eu acho que nós fomos a banda mais popular do Oeste por lá. Nós fizemos turnê na Rússia no verão, para curtir melhores temperaturas, porque lá pode ser muito frio, e cinza, e miserável em abril, ou abril ou novembro, quando o clima não é tão prazeroso. Mas dessa vez estivemos lá em maio e junto, a atmosfera, as vezes num outdoor de show, é "UAU." As pessoas realmente se desenvolveram muito bem, nós sabemos disso desde 27 anos atrás, quando estivemos lá pela primeira vez, que eles eram uma grande audiência; eles conhecem a música. Então, os shows que tivemos lá foram simplesmente fantásticos. 

FOX411: A mensagem de uma música como Wind of Change [do Crazy World de 1990], que fala sobre muros vindo abaixo e pessoas se unindo após separações por barreiras culturais, aplica-se até hoje, vocês não acham?

Jabs: Absolutamente. A música pode construir pontes, como dissemos, que conectam as pessoas. Olha o que fizemos na Rússia. No Egito, nós tocamos nas pirâmides. Estivemos em Tel Aviv duas vezes, e eles nos adoraram lá; eles vieram da Jordânia. Nós tocamos em Dubai; eles veram de todo os Emirados, e eles estavam todos juntos. Em Beirute nós tocamos muitas vezes, e no Kuwait também. E nem de longe, nós nunca fomos confrontados com nada. Nós tocamos em todos esses países, mas você precisa ter dois passaportes. Você não pode ter um carimbo israelita no Paquistão. Mas eles todos vêm aos nossos shows e todos celebram juntos, o que é maravilhoso. E nós estivemos na China pela primeira vez. Foi uma experiência fantástica. Foi um grande festival, por volta de 50 mil pessoas - talvez não tão grande para a China (risos) - mas foram muitas pessoas de qualquer forma! Foi próximo ao famoso rio Yangtze. Logo depois daquilo, nós tivemos propostas para mais seis shows em janeiro, então parece, finalmente, depois de muitas décadas, que nós estamos entrando no mercado chinês. Ele não tem história no rock, é claro. Parece que cidades modernas como Xangai são mais focadas em música Dance, o que é típico desses dias. Mas foi incrível - o público estavam cantando as letras em sua própria interpretação, mas eles conheciam nossa música, com certeza.


FOX411: Quão maravilhoso é que Rock You Like a Hurricane [do Love at First Sting, de 1984] parece se conectar com todas as gerações?

Schenker: Sim! Eu acho que Rock You Like a Hurricane é a antena dos anos 80. É puro rock'n'roll, completamente. Quero dizer, o que eu posso falar? Os anos 80 foram a melhor época do rock'n'roll. As gravadoras tinham dinheiro, eles faziam festas como loucos, e faziam dinheiro como loucos por lançar os CD's que eles puxavam dos álbuns. Foi uma época fantástica. Nós tivemos Aerosmith, AC/DC, Def Leppard, Ozzy Osbourne, e então o Metallica apareceu. Inacreditável.

FOX411: Eu acho que vocês devem ter criado o conceito de luta na gaiola, já que vocês tiveram aquela cerca no vídeo Hurricane.

Schenker:Exatamente, sim! (risos)


Jabs: Nós descubrinos nos últimos 10 anos que nós temos um público bastante jovem, menos de 20 anos e no começo de seus 20 anos; muitos deles. Pelo menos na primeira fila, é o que vemos. Eles estão pulando pra cima e pra baixo e cantando as músicas. Eles provavelmente aprenderam tudo do Youtube, todas as músicas que foram escritas e apresentadas e lançadas antes de eles nascerem. Músicas como Blackout e Big Citu Nights - eles conhecem todas as palavras, pequenas garotas de 19 anos. Obviamente é mais agradável olhar para elas do que alguns caras barbados de cabelos brancos da minha idade. (risos)


FOX411: A primeira música do Return to Forever se chama Going Out With a Bang [Indo embora com um estrondo], mas vocês não podem ir agora, rapazes.Vocês precisam continuar. 

Jabs: Muito obrigado. Nós temos a mesma sensação. Dizer tchau e tudo isso, quando nós dissemos que estávamos encerrando [após a turnê de despedida Get your sting and Blackout em 2010 - 2011], não parecia certo. Nós fizemos isso, e estávamos convencidos, e estávamos falando sério sobre isso, mas não parecia certo. Nunca pareceu certo. E quando percebemos, estávamos nos divertindo muito. O que mais você pode fazer? Ficar em casa sentado? Nós amamos o que fazemos e é muito divertido pegar a estrada, então nós temos que continuar fazendo aquilo que amamos. 


Schenker: Oh, não - nós estamos chegando com um estrondo [coming in with a bang]! (rissos) Gostamos disso. Nós dissemos despedida em 2010. Foi o que dissemos, mas nós temos tantos jovens agora, mais de 6 milhões de fãs no Facebook, e 80% deles entrem 18 e 28 anos - é uma nova e jovem geração de rock. Isso nos inspirou a fazer nova música e mostrar a essas pessoas que música é uma grande linguagem e que podemos nos comunicar perfeitamente. É uma família. Uma família do rock. Ver as pessoas no aeroporto dizendo "não, vocês não podem ir embora!" - você percebe o quanto essas pessoas apreciam sua música. E isso é fantástico. Você precisa dizer adeus para saber o quão bem vindo você é. 

Entrevista: Mike Mettler
Fonte: FOX News
Tradução: Scorpions Brazil