quinta-feira, 10 de outubro de 2019

Diário de uma turnê: Da pedrada na Pedreira ao êxtase no Rock in Rio (Parte 1)

Klaus Meine canta encostado em Matthias Jabs, que toca guitarra
Klaus Meine e Matthias Jabs em São Paulo
A passagem do Scorpions pelo Brasil foi, literalmente, como um furacão. Foram dias inesquecíveis, das pedradas que levamos em Curitiba ao êxtase do histórico retorno da banda ao Rock in Rio 34 anos depois da primeira edição em 1985. E nossa resenha não será de apenas shows, mas sobre a intensa aventura que foi seguir esses caras pelo Brasil. Senta que lá vem história!

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Parte 1



Nós começamos a planejar o acompanhamento dessa turnê muito antes de ela começar. Assim que soubemos de algumas datas bem antes de serem anunciadas, foi uma corrida contra o tempo para conseguirmos nos organizar, marcar férias, perder aulas na faculdade e caçar passagens aéreas promocionais e trechos de ônibus quando não era possível encontrar um voo que coubesse dentro de nosso orçamento. E conseguimos com sucesso (e algum rombo financeiro em nossas contas) encaixar cinco shows do Brasil em nossa rota de viagem, ainda que a ideia inicial fosse acompanhar todos os sete shows em solo brasileiro. 

Meses se passaram num piscar de olhos e, enfim chegou a tão esperada turnê. Eu saí do trabalho em São Paulo direto para o aeroporto do dia 17 de setembro. David saíra de Salvador e já se encontrava em Curitiba quando cheguei. Juntos, fomos para o hotel fazer nosso check in. Pudemos acompanhar a banda chegando no dia seguinte, ver as faixas de isolamento e proteção e ver a banda passar direto para seus quartos. 

18 de setembro: Começa a saga da pedrada na Pedreira
(Curitiba: Europe, Whitesnake e Scorpions)

Scorpions sob muita chuva em Curitiba
Depois de um tempo, quando tudo estava mais calmo, nós vimos Rudolf passar pelo lobby do hotel, que prontamente nos reconheceu e nos cumprimentou. O dia começava maravilhosamente bem! Após confirmarmos nossos ingressos horas depois com o manager da banda, seguimos para o local do show e fomos retirá-las. Teria sido tudo perfeito se, ao deixarmos o Uber, não tivesse começado uma forte chuva que logo se transformou em uma violenta tempestade de granizo. Mal tivemos tempo de vestirmos nossas capas de chuva, que pouco adiantou. As pedras de gelo eram enormes, e nos acertavam com força nas costas, na cabeça, em nossas mãos tentando nos proteger. Com nossos corpos curvados e sem ter para onde correr para nos proteger, restou-nos continuar caminhando, levando pedradas em meio a alguns gritos de dor. Foi quando meus óculos escorregaram de minha face e foram direto para o chão cheio de gelo. Que desespero! Eu não enxergo nada sem eles, eu precisava de óculos para encontrar meus óculos. Ajoelhada no gelo e tateando com as mãos congeladas, buscava desesperadamente pelos meus “olhos”, e David tentava ajudar como podia. Quando encontrei, minha capa de chuva já estava toda rasgada, e as pedradas deixavam marcas de dor por todo nosso corpo. Foi quando conseguimos chegar à bilheteria para retirar nossas entradas e o show do Europe já havia sido interrompido na metade, deixando aquela expectativa sobre a continuidade ou não do festival. Palco tomado por gelo, pedaços de árvore para todo o lado, com o caos instaurado, não fomos autorizados a entrar no backstage até que tudo fosse organizado. Enquanto isso, nós (e todos os presentes do show) sofriam com o frio e a dor das pedradas. Fãs com hematomas, cadeirantes sem ter para onde ir, celulares destruídos… e o amor pela banda ainda assim falou mais alto, os fãs permaneceram firmes e fortes. 

Até que o show do Whitesnake começou e nós tentávamos nos recompor no backstage, foi quando encontrei Paulo Baron, o ex-promotor da banda. Ele me cumprimentou de forma calorosa, abraçamo-nos e eu contei nossa saga para chegar até ali. Ele foi muito gentil, levou-me para pegar um café quente, “Você precisa se aquecer”. Quando a banda deixou o backstage, eu estava prestes a desistir do show, uma vez que eu teria mais quatro shows pela frente e tive medo de ficar doente, mas quando os vi subir ao palco (agora com apenas chuva, sem pedradas), aquele amor falou mais alto e simplesmente não pude ir embora, seguimos Paulo, que nos conseguiu um lugar menos tumultuado para ver o show. Assistimos ao show debaixo de chuva e meu celular morreu por algumas horas (e foi ressuscitado no dia seguinte).

Scorpions fez uma apresentação à parte, mesmo com problemas de som causados pela chuva, mantiveram-se firmes e fortes: Se todos nós aguentamos aquelas pedradas, eles não iriam nos decepcionar. Quando a chuva começou a dispersar, Klaus Meine com toda a sua simpatia e carisma de palco, disse “Nós viemos e mandamos as nuvens embora!” e todos pudemos assistir a uma apresentação maravilhosa, com um setlist de 15 músicas. O furacão que veio após as pedradas compensou todo o sofrimento dos fãs naquela tenebrosa noite na Pedreira Paulo Leminski.

20 de setembro: da Pedreira à selva de pedras

Saímos de Curitiba por volta das 11 da manhã do dia seguinte após o show. Um detalhe curioso: Joey Tempest (Europe) estava no mesmo voo que nós, sozinho, sem seus companheiros de banda ou acompanhado de qualquer segurança. Não o incomodamos, estava concentrado em seu smartphone. 

Moídos, desembarcamos em congonhas e fomos direto para minha casa, em Cotia, descansar era preciso. No dia 20 de setembro, pegamos nossas coisas e rumamos a São Paulo, e fizemos nosso check-in no hotel. Encontramos Dedé (amigo de David), conversamos, observávamos o movimento para ver se alguém interessante passava por ali (leia-se: algum integrante da banda), enquanto isso conversávamos e os seguranças da banda nos cercavam e observavam cada movimento nosso. Não nos importamos de fato, eles estavam apenas fazendo seu trabalho e nós apenas sendo fãs tranquilos com consciência o suficiente para não invadir o espaço e a privacidade de nenhum integrante da banda. 

Quando resolvi subir para meu quarto para verificar algumas coisas e desci logo em seguida, vi Rudolf Schenker saindo pelo elevador da frente, e os seguranças logo o seguiram e eu segui o fluxo, porque era o caminho que eu tinha para fazer até eu chegar a David e Dedé. O segurança pensou que eu estava indo seguir Rudolf e colocou o braço na minha frente para bloquear minha passagem, eu apenas desviei e segui meu caminho sem me importar. Encontrei David apenas que estava observando a passagem de Rudolf. Quando encostei na mesa, Rudolf nos viu e nos cumprimentou. Logo em seguida, vimos Klaus Meine saindo do elevador, simpático e sorridente, e também veio nos cumprimentar. Foi quando os seguranças deram uma relaxada. Dedé, que estava lá e esperava a manhã toda por esse momento, perguntou se eu não poderia pedir a Klaus que ele tirasse uma foto, já que não falava inglês e estava muito nervoso. Assim o fiz e Klaus atendeu prontamente. Rudolf, Klaus e o manager da banda seguiram para o restaurante e foram almoçar.

Nesse dia ainda encontrei Carlinhos Brown no hotel e conheci mais amigos (e já amigos do David). Tivemos um excelente jantar com a companhia de Rosalva e Marcus, antecedendo o grande show que estava por vir.

21 de setembro: o dia em que o Allianz Parque tremeu
(São Paulo: Armored Dawn, Europe, Helloween, Whitesnake e Scorpions)

Klaus Meine sorri enquanto joga baquetas ao público
Klaus Meine no Allianz Parque
Para o show de São Paulo, tive a credencial de fotógrafa fornecida pela própria banda. A produtora brasileira não costuma dar muita atenção aos fã clubes e fã sites das bandas, e com o Scorpions Brazil não foi diferente. Negaram minha credencial de fotógrafa e aceitaram a credencial de redator do David, mas como não nos interessava que apenas um de nós fosse ao show, acabamos deixando o contato com a produtora para lá e passamos a tratar diretamente apenas com o manager da banda, que nos deu acesso e minha credencial de fotógrafa, como sempre fizeram durante anos. 

Com minha câmera na mochila, chegamos ao local do show e não pudemos entrar, pois não reconheciam minha credencial. Depois de muito tempo de espera e de perder o show do Whitesnake, acabamos entrando com ajuda interna depois de muitas ligações. Scorpions fez um show memorável e pude tirar algumas boas fotos durante as três primeiras músicas. Eu nunca havia ido a um show do Scorpions em um estádio, os shows em que estive presente sempre foram em locais menores, como arenas e casas de show com espaço para no máximo 10 mil pessoas. Quando me vi na multidão enquanto Klaus Meine jogava seu microfone para o público cantar junto e eu vi 50 mil pessoas cantando em um só coro, bateu aquele orgulho de ser fã! Mal sabíamos o que nos esperava no Rock in Rio… O setlist de São Paulo foi quase o mesmo de Curitiba, com a exceção de Delicate Dance, que não foi tocado na capital paulista. Um dos pontos mais altos do show foi o solo de bateria de Mikkey Dee, que fez de longe o seu melhor solo desde que se juntou oficialmente à banda em 2016.

Da esquerda para a direita, todos em pé, abraçados: Rudolf Schenker, Pawel Maciwoda, Klaus Meine, Matthias Jabs e Mikkey Dee
Scorpions agradece ao público no final do show em São Paulo













 Veja aqui a Galeria de fotos do show de São Paulo

22 de setembro: Uma pausa para recarregar as energias

Da esquerda para a direita: Rudolf Schenker (segurando um dos quadros), David, Klaus Meine (segurando um dos quadros) e Roberta
Roberta e David com Klaus Meine e Rudolf Schenker
Era hora de Scorpions rumar para Uberlândia e de fazermos uma pequena pausa para descanso, já que não conseguimos encaixar Uberlândia e Brasília em nossa rota. Foi quando eles estavam deixando o hotel para ir ao aeroporto que encontramos Klaus e Rudolf e entregamos os quadros com os mapas que David criou. 

Entregar esse maravilhoso trabalho do David para a banda demandou um grande planejamento logístico. Além de praticamente tudo ser mais barato em São Paulo, seria complicado David sair de Salvador com os quadros prontos e montados em um voo econômico sem despacho de bagagem incluso. Lá fui eu para a 25 de março atrás dos quadros enquanto David imprimia os mapas e os trazia enrolados dentro de um tubo. Montamos tudo e levamos para o hotel.

O trabalho foi mais do que gratificante, ficaram todos impressionados com a arte e até o manager da banda queria uma cópia! Tiramos fotos com Klaus e Rudolf segurando os mapas e, dias depois, a foto apareceu no facebook oficial da banda. Um reconhecimento e tanto!

Mapa contendo todas as datas que Scorpions tocou no Brasil: 45 datas, em 19 cidades, de 1985 a 2019.
Mapa criado por David Araújo

Continua... Parte 2 aqui!


Setlist de Curitiba (18/09/2019)

00. Intro
01. Going Out With a Bang
02. Make It real
03. The Zoo
04. Coast To Coast
05. Top of the Bill / Steamrock Fever / Speedy's Coming / Catch Your Train
(70's medley)
06. We Built This House
07. Delicate Dance
08. Send Me An Angel
09. Wind Of Change
10. Bad Boys Running Wild / I'm Leaving You / Tease Me Please Me (80's Medley)
11. Drum Solo Mikkey Dee
12. Blackout
13. Big City Nights

14. Still Loving You
15. Rock You Like a Hurricane

Setlist de São Paulo (21/09/2019)

Imagem com o setlist original autografado por Klaus, Rudolf e Mikkey. 00. Intro 01. Going Out With a Bang 02. Make It real 03. The Zoo 04. Coast To Coast 05. 70's Medley (Top Of The Bill, Steamrock Fever, Speedy's Comin, Catch Your Train) 06. We Built This House 07. Send Me An Angel 08. Wind Of Change 09. Tease Me, Please Me 10. Drum Solo Mikkey Dee 11. Blackout 12. Big City Nights 13. Still Loving You 14. Rock You Like a Hurricane