sábado, 12 de outubro de 2019

Diário de uma turnê: Da pedrada na Pedreira ao êxtase no Rock in Rio (Parte 2)

Klaus Meine erguendo os Braços no palco em Porto Alegre
Klaus Meine em Porto Alegre
A passagem do Scorpions pelo Brasil foi, literalmente, como um furacão. Foram dias inesquecíveis, das pedradas que levamos em Curitiba ao êxtase do histórico retorno da banda ao Rock in Rio 34 anos depois da primeira edição em 1985. E nossa resenha não será de apenas shows, mas sobre a intensa aventura que foi seguir esses caras pelo Brasil. Senta que lá vem história!

Read it in English here

Parte 2
(Leia a parte 1 aqui)

28 de setembro - O melhor do rock na ilha da magia

(Florianópolos - Helloween e Scorpions)


Eu havia chegado a Florianópolis antes do David, no dia 26 de setembro, quinta feira. Fiz check-in no hotel e fui apreciar a vista da piscina quando de lá de cima vi a banda chegar e estacionar para a entrada. Como é bom saber que já estão por perto!

Depois, sem muito o que fazer e com fome, fui almoçar, passear, aproveitar a piscina, fazer compras de mercado para colocar no frigobar (porque né, a gente fica em hotel cinco estrelas mas nem por isso vamos pagar os absurdos cobrados nele 😅). 

David iria chegar apenas no dia 28, dia do show, e eu já estava entediada. Descobri que me locomover em Florianópolis de Uber era muito caro e o transporte público era impraticável. Nada de Praia da Joaquina, Lagoa da Conceição ou Jurerê. O caminhar pelas dependências do hotel, passear no shopping e caminhar na orla Beira Mar era tudo o que eu tinha. Chegou a noite, sem sono, fui dar uma volta no hotel. Pego o elevador, desço e de repente a porta abre, ninguém mais, ninguém menos que Klaus Meine apareceu na minha frente. Ele foi entrando no elevador, cumprimentamo-nos e, de repente, a noite passou a fazer mais sentido! Mas eu estava descendo, e ele, subindo, então ele saiu do elevador (Pô, Klaus, volta aqui, vamos bater um papo! 😅).

No dia seguinte, encontrei dois amigos chilenos, Jorge e seu filho Rodrigo, que me convidaram para almoçar. De cara, encontramos Rudolf servindo-se no buffet, e obviamente não fomos incomodá-lo em seu horário de almoço. Mas parece que os seguranças precisavam se certificar de Rudolf não seria incomodado e então eles resolveram me incomodar: “Roberta, Roberta!”, gritavam meu nome enquanto eu ia servir o meu prato. Fui até os seguranças. “Não é para incomodá-los no almoço, nem tirar fotos, se você sacar o celular seremos forçados a tirá-la daqui”, disseram. Eu fiquei olhando com aquela cara de “ué?” e então respondi. “Eu só vim almoçar com meus amigos, vocês já me viram diversas vezes, sabem que não faço isso”. “Eu sei, só estamos fazendo nosso trabalho”, respondeu um deles. Ok, e eu só estava querendo almoçar mesmo, pode ser? Voltei para o buffet e observei mais à frente que todos eles almoçavam, e continuei me servindo. Foi quando Klaus veio ao buffet para se servir mais um pouco e assim me cumprimentou, trocamos algumas rápidas palavras e voltamos para nossas mesas, e o ambiente tornou-se mais agradável e o dia mais bonito. Depois de um tempo o segurança estava mais relaxado e até trocamos algumas palavras amigáveis. De piscina do hotel à orla da Beira Mar e passeio no shopping, o dia seguiu sem mais surpresas. 

Dia 28 de setembro, David chegou logo pela manhã. Conheci Regina e Rodrigo, amigos de David (e agora meus amigos, Scorpions sempre me trazendo amigos) no café da manhã, onde Rudolf estava a poucos metros. Na saída, tirou fotos com fãs que esperavam por ele, nos cumprimentou e ainda elogiou as minhas botas vermelhas. Mais tarde, fomos almoçar no shopping com Regina e Rodrigo. Depois do almoço, eu e David voltamos ao hotel. Enquanto David largava-se na poltrona do lobby, eu subi para escovar os dentes e buscar o carregador do meu celular. Quando volto, a porta do elevador se abre e vejo Klaus sentado ao lado de David, que aponta para mim e Klaus olha para mim dizendo “Hi, Roberta!” Com expressão de surpresa, eu respondo o cumprimento, sento próximo aos dois e tivemos um rápido bate papo. Ah, ele também elogiou as minhas botas vermelhas.

Matthias Jabs tocando guitarra no palco em Florianóplis
Matthias Jabs em Florianópolis
Hora de ir para o show, pegamos nossas entradas, meu passe de fotógrafa e entramos no local do show. De alguma forma, conseguimos chegar bem próximo à grade antes do show do Helloween, Regina e Rodrigo foram à loucura com a banda, mas eu descobri que eles não me empolgam nem ao vivo. Hora do show do Scorpions e entro para fotografar as três primeiras músicas. Com uma lente a menos (porque eu esqueci em casa quando fui refazer a mala 🤦🏻‍♀), perdi a possibilidade de um ângulo maior, precisando apelar para o celular em alguns momentos e perdendo um pouco do controle sobre as fotos. 

Regina, Rodrigo e David conseguiram chegar à grade assim que alguns fãs do Helloween resolveram abrir espaço, e depois de fotografar, abri meu caminho até eles e pude, enfim, assistir a um show dessa turnê bem de perto. E o show estava perfeito, sem mudanças no setlist, como previsto, a voz de Klaus Meine impecável como sempre, arrancava suspiro das fãs que estavam na primeira fila a receber seus beijos e piscadelas durante o show. Rudolf impressionava com tanta energia no palco, seus riffs inesquecíveis ecoavam na Arena Petry completamente lotada, e foi um show memorável para fã nenhum botar defeito. Fim de show, voltar pro hotel, desmaiar na cama e acordar porque o dia seguinte rumaríamos a Porto Alegre. 

Rudolf Schenker abrindo os braços e erguendo a guitarra no palco em Florianópolis
Rudolf Schenker em Florianópolis
Mas não poderia terminar sem uma supresa, né? Quando fizemos checkout e esperávamos a hora de sair para o aeroporto, Klaus Meine desce com seu manager para uma voltinha na praia, apenas um breve tchau para nos vermos mais tarde em Porto Alegre. E quase perdemos nosso voo devido ao trânsito absurdo em Florianópolis. E na espera do embarque, lá estava toda a banda do Helloween esperando para embarcar no mesmo voo que a gente. Primeiro Joey Tempest em Curitiba, depois Helloween em Florianópolis! Se fossemos superfãs, estaríamos realizados.


Veja aqui a Galeria de fotos do show de Florianópolis


01 de outubro: acontecimentos inesperados

(Porto Alegre: Helloween, Whitesnake e Scorpions)


A chegada a Porto Alegre no dia 29 foi bem tranquila, ao desembarcar, dei uma de Paparazzi e tirei algumas fotos do Helloween para enviar ao Mailson, já que ele é superfã da banda. Curiosamente, Mailson foi quem fundou o Scorpions Brazil, mas deixou a equipe há muito tempo e nunca conseguiu ir a um show do Scorpions (ou do Helloween). Coisas da vida. 

Scorpions ainda estava em Florianópolis e nós fomos curtir a noite de Porto Alegre com David, Bela e família em uma hamburgueria. Depois, o resto da noite foi só dormir porque era só o que nos faltava. 

30 de setembro, os planos para o dia eram um dia relaxante em alguma sombra da Usina do Gasômetro, e muita conversa de três anos sem encontrar a Pati, que também faz parte da equipe do site e que, a princípio, compareceria apenas ao show de Porto Alegre, mas alguns acontecimentos inesperados mudaram totalmente o rumo dessa história. 

Pati nos escutava falar do Rock in Rio e começava a ter coceiras para tentar ir ao show, mas faltava-lhe ingresso e passagens. Não havia tempo hábil para que pudéssemos conseguir mais um ingresso para ela, e as passagens de avião para o Rio de Janeiro estavam completamente inflacionadas por conta do festival. E no momento, frustrada, estava quase conformada em não ir ao Rio de Janeiro.

Dia primeiro, dia de show. Não estávamos hospedados no hotel (cabô dinheiros, né gente, essa vida de hotel 5 estrelas não pode durar pra sempre 💔) mas resolvemos dar uma passada por lá, a ideia de cruzar com algum Scorpion pelo caminho era sempre bem vinda, ademais, encontrar Mikkey Dee zanzando pelo hotel era quase sempre certo, e, geralmente, parava para conversar e tirar fotos, a simpatia em forma de gente. Ocorre que os seguranças não eram mais os mesmos e nunca nos viram mais gordos. Sendo assim, começou o cerco, atendentes do hotel nos informando que se não consumíssemos no mínimo 50 reais teríamos que sair do hotel, seguranças nos rodeando, e depois de fazermos algumas contas, eu e Pati resolvemos nos hospedar (cartão de crédito com parcelamento sem juros pra quê? 😁). Depois de tirar o escorpião do bolso (sem trocadilhos!) lá estávamos nós, hospedados no hotel novamente 💸💸💸. 

Arrumamos-nos para o show, retiramos nossas entradas e, adivinhe só! Dessa vez com direito a meet and greet no backstage! Era a glória! (só que não…). Chegamos quase no fim do show do Helloween (eu não queria ver, nem Bela, tampouco David), mas Pati parecia uma criança pulando tentando pegar pelo menos a última música do show, já que ela nunca os tinha visto ao vivo. Ok, terminou o show do Helloween, vamos agora ao backstage? Vamos. É… pequeno problema: o segurança não podia nos deixar entrar. “Alguém precisa buscar vocês”. E ele passa rádio pra cá e pra lá, e nada de alguém aparecer para nos buscar. Começou o show do Whitesnake, como eu tinha credencial de fotógrafa, deixaram-me fotografá-los também. 

David Coverdale segurando o pedestal do microfone no palco em Porto Alegre
David Coverdale (Whitesnake) em Porto Alegre
David Coverdale pode ter perdido boa parte da sua voz, mas a banda era fantástica e, de longe, o melhor frontman para ser fotografado! As melhores fotos da noite foram do show do Whitesnake. Coverdale é performático, não sai da parte da frente do palco, o que facilita muito para a foto, principalmente para quem tem limitação de equipamento como eu tinha, ainda mais faltando uma das minhas lentes fotográficas. E a iluminação do palco parece que foi feita especialmente para os fotógrafos. Perfeita!

Findadas as três primeiras músicas, voltamos à programação inicial. Backstage! Alguém pode nos colocar para dentro, por favor? “Ainda não me responderam”, dizia o segurança local. Não tínhamos o que fazer: curtimos muito o show do Whitesnake. Entre uma música e outra tentávamos o backstage. Até que nos mandaram para um portão, “Alguém vai pegar vocês lá”. Ninguém foi. E de repente já não dava mais, o show do Whitesnake já havia acabado. “Acabou o meet and greet, a banda já está se preparando para subir ao palco”. Foi quando reconheci alguém da produção local, e perguntei para a mulher o que tinha acontecido, ela disse: “O Meet and Greet era para alguns ganhadores de promoção e quem tinha a pulseira dourada e…” Ela parou, viu a pulseira dourada no meu braço. “Ué, você tem a pulseira dourada”. Eu suspirei, “É, nós quatro temos, mas ninguém veio nos buscar”. A resposta dela foi a mais animadora: “Era eu quem deveria buscar vocês, mas ninguém me passou o rádio avisando.” Mais um suspiro. O que poderíamos fazer? Já estava feito. E por ter perdido o Meet and Greet pudemos assistir ao fantástico show do Whitesnake, o qual perdemos em São Paulo por conta dos problemas com minha câmera fotográfica. 

Klaus Meine sorrindo e segurando baquetas para jogar ao público em Porto Alegre
Klaus Meine em Florianópolis
Scorpions subiu ao palco às 21h50 e lá fui eu para fotografá-los. Frustrante, não conseguia uma foto boa daquele show. O posicionamento da banda no palco não me deixava encontrar um bom ângulo para as fotos, diferentemente de Coverdale, a banda, principalmente Klaus Meine, não se postava na parte da frente do palco e, quando se aproximava, os canhões de luz vinham todos em minha direção, e eu não consegui encontrar nenhum ângulo com boa iluminação. Terminadas as três primeiras músicas, voltei para a plateia e curtimos o show até o último minuto, apesar do calor insuportável que fazia lá dentro, chegando a 40ºC no interior do Ginásio Gigantinho. Não havia água disponível, os vendedores abusavam do preço da água e, se eu não tivesse 10 reais no bolso para comprar uma garrafa d’água (de procedência duvidosa, diga-se de passagem), acho que eu teria passado mal de desidratação. Tomei a garrafa toda em um só gole e, depois que a sede voltou, eu não tinha mais dinheiro para comprar água. Por volta da metade do show, encontrei a Pati novamente, pois havíamos todos nos separados em meio a multidão da pista no Gigantinho. Nós duas curtimos o show juntas como já fizemos outras vezes, parceria desde 2008 nas turnês da banda. Ao final do show, ao menos nossas pulseiras de backstage serviram para que saíssemos por trás do palco. Assim que a banda deixou o local do show, pudemos passar e sair sem enfrentar a multidão nas saídas principais do Gigantinho (e ainda conseguimos água).

Já no hotel, encontramos Marcus Grosskopf do Helloween, Pati logo parou para conversar com ele, e ele ofereceu cerveja, mas só encontrava água, até que colocaram uma cerveja na mão dele e passou para Pati, alterado pelo álcool, não falava coisa com coisa, quando dissemos nossos nomes, ele disse: “Roberta não é nome de homem?”, virei os olhos, “não, você está confundindo com Roberto”. Doidaço. De repente, estávamos perto de Kai Hansen, Pati queria conversar, tirar foto, e eu acompanhava, ele parecia não gostar de tirar fotos, preferia a conversa com os fãs, mas acabou tirando uma foto com a Pati e, então, virou-se para mim e perguntou: “E você, quer tirar uma foto também? Você tá com cara de quem quer uma foto”. Por que não? Eu não iria pedir, mas já que estávamos lá… e foi assim que tirei uma foto com um cara do Helloween, mesmo sem ser fã. 

Nada mais a fazer por ali. Scorpions há muito já havia chegado e se recolhido aos seus aposentos, e nós precisávamos descansar. Pati e eu subimos para nosso quarto, David e Bela foram para casa. 

Na manhã seguinte, David já estava no hotel às 8:30, Bela havia ido trabalhar. Depois de comer alguma coisa no quarto, descemos. Encontramos David no Lobby e ficamos por lá conversando até a hora de a banda deixar o hotel para viajar ao Rio de Janeiro. Era o Rock in Rio que se aproximava, e a Pati não se conformava que não estaria presente na volta histórica do Scorpions ao festival. 

Vimos Scorpions descer por volta de meio dia e meia, tudo já estava pronto para sua partida. Entregamos a Klaus o jornal do dia com uma matéria sobre as aranhas com nome de astros do rock, uma vez que ele era um dos homenageados na descoberta das espécies. David pegou autógrafos de Rudolf, tiramos fotos. Despedimo-nos. Até o Rock in Rio!

O hotel ficou vazio. Ao menos parecia, Scorpions já não estava mais por ali. Mas, para a Pati, as emoções continuavam a todo vapor. Além de fã de Scorpions, ela é também fã de Helloween, e conversou e tirou fotos com os integrantes banda que estavam pelo hotel. Já havíamos feito checkout e estávamos exaustos sentados no lobby, eu e David já queríamos ir embora, mas Pati foi ao lado de fora dar um alô para um amigo de Porto Alegre. Passaram-se mais de 15 minutos e nada de a Pati voltar, “Caramba, quero ir embora”. Resolvo ir atrás dela, mas volto logo em seguida. “David, pode se preparar para esperar mais, Pati está no maior papo com Michael Kiske”. Eles conversaram sobre assuntos diversos como o show em Porto Alegre, sobre a cena atual do heavy metal, sobre o calor na cidade… Mais uns 15 minutos se passaram e a Pati volta com um sorriso de orelha a orelha “Preciso arrumar as passagens para o Rio, Michael Kiske me colocou na lista de convidados do Rock in Rio”.

Veja aqui a Galeria de fotos do show de Porto Alegre!

Continua... Parte 3 (final) aqui!

Setlist Florianópolis e Porto Alegre

00. Intro
01. Going Out With a Bang
02. Make It real
03. The Zoo
04. Coast To Coast
05. Top of the Bill / Steamrock Fever / Speedy's Coming / Catch Your Train
(70's medley)
06. We Built This House
07. Delicate Dance
08. Send Me An Angel
09. Wind Of Change
10. Tease Me Please Me
11. Drum Solo Mikkey Dee
12. Blackout
13. Big City Nights

14. Still Loving You
15. Rock You Like a Hurricane